Coca‑Cola anuncia nova versão com açúcar de cana nos EUA
Impacto estratégicos e riscos ao setor agro

Coca‑Cola anuncia nova versão com açúcar de cana nos EUA
Contexto e anúncio oficial
No dia 16 de julho de 2025, o ex‑presidente Donald Trump afirmou em rede social que teria convencido a Coca‑Cola a substituir o xarope de milho (HFCS) por açúcar de cana na versão principal da bebida nos Estados Unidos. A empresa, em seu relatório do 2º trimestre, confirmou que lançará uma versão alternativa com açúcar de cana dos EUA neste outono (hemisfério norte), mas não substituirá a fórmula atual — será um produto complementar à gama existente.
O CEO James Quincey declarou ser uma estratégia de “and not or”, ou seja, manter o HFCS enquanto oferece mais variedade; já existe uso de açúcar em outras bebidas da Coca‑Cola e também na importada "Mexican Coke", muito apreciada nos EUA
Efeitos no mercado de açúcar
Analistas estimam que o novo produto da Coca‑Cola exigirá cerca de 1,4 a 1,5 milhão de toneladas adicionais de açúcar por ano (equivalente a aumento de demanda de ~35%)
Porém, segundo consultoria Datagro, para 2025/26 espera-se superávit global de açúcar de +1,53 milhão de toneladas, revertendo o déficit de –4,67 Mt de 2024/25. Esse cenário pressiona os preços para baixo.
No entanto, o aumento súbito de demanda em um mercado já com capacidade restrita de importação e produção doméstica limitada, pode criar gargalos locais, independentemente do ambiente global.
Produção dos EUA: gargalos estruturais
Os EUA consumem cerca de 12,5 milhões de toneladas de açúcar por ano, dos quais somente ~4,0 milhões STRV vêm de cana (44%) — o restante de beterraba e importações.
Mesmo com crescimento projetado de produção de cana (em torno de 4,1 Mt para 2025/26), não há capacidade para absorver a demanda adicional da Coca‑Cola sem aumentar importações ou alterar estoques.
Craig Ruffolo, especialista em commodities, alerta:
“Under existing cane‑refining production capabilities, it would be nearly impossible for the sugar industry to absorb Coca‑Cola’s demand.”
Impacto sobre o milho e HFCS
HFCS representa cerca de 5% do uso total do milho nos EUA, enquanto outras funções como etanol e alimentação animal dominam a demanda.
Segundo a Associação dos Refinadores de Milho, uma migração significativa de HFCS para açúcar reduziria os preços do milho em até $0,34/bushel e geraria perda de US$ 5,1 bilhões em renda agrícola, com perdas de empregos nas plantas de processamento.
Custos e margens corporativas
Reflexivity estima que a substituição do HFCS por açúcar poderia elevar os custos anuais da Coca‑Cola em cerca de US$ 600 a 1.000 milhões, um aumento de até 80% comparado ao custo atual do adoçante.
Como resposta, a empresa poderá repassar parte desse custo ao consumidor ou aceitar margens menores — mas isso abre risco de perda de competitividade com versões HFCS.
Saúde e percepção do consumidor
O movimento se insere na cruzada do programa governamental "Make America Healthy Again", liderado por Robert F. Kennedy Jr., que critica o uso de HFCS como desencadeador de obesidade e diabetes.
Entretanto, entidades como o Center for Science in the Public Interest e a American Medical Association afirmam que não há benefício nutricional relevante entre açúcar de cana e HFCS — a diferença seria apenas perceptual ou de marketing.
Cenários estratégicos para o agronegócio brasileiro
Cenário | Implicações | Ações Estratégicas |
---|---|---|
Base (sem mudança) | Superávit global mantém pressões baixistas no açúcar; HFCS segue estável nos EUA | Monitorar produção Datagro, CEPEA e SAFRA para ajuste de preços |
Otimista (demanda adicional absorvida) | Preço do açúcar sobe se demanda for absorvida com importações restritas | Qualificar forçantes de exportação; explorar venda a preços mais firmes |
Pessimista (pressão por importações + tarifas) | Déficit local nos EUA, preços globais pressionam, reformas tarifárias limitadas | Advocacia junto a governos; buscar oportunidades em mercados restritos nos EUA e México |
Conclusão
A nova estratégia da Coca‑Cola não representa uma reformulação completa da fórmula, mas sim uma expansão da linha com açúcar de cana, sob demanda do mercado e do governo. Embora os dados globais apontem para superávit de açúcar em 2025/26, a capacidade limitada de produção e importação nos EUA, associada ao forte crescimento da demanda (1,4–1,5 Mt), pode gerar desequilíbrios regionais e pressões de preços locais. Do ponto de vista brasileiro, existem oportunidades táticas de exportação e gestão fiscal, desde que estrategicamente alinhadas ao ambiente de trade, logística e tributos.